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21 de fevereiro de 2025Confira os pontos fundamentais para incorporar as tendências tecnológicas no varejo em 2025
Inteligência Artificial (IA) generativa, automação total no atendimento ao cliente, monitoramento por IA para controlar estoques e gôndolas em grandes varejistas. Essas foram as soluções que movimentaram a National Retail Federation (NRF) 2025, um dos grandes encontros do varejo que ocorreu em janeiro, na cidade de Nova York, nos Estados Unidos. O evento, que funciona como uma bússola estratégica para as empresas, deixou diversas lições que podem ser adaptadas à realidade brasileira para alavancar as vendas, em especial nos pequenos negócios.
Para comentar todas as inovações, o Conselho de Economia Digital e Inovação da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP), organizou um webinário, na última sexta-feira (7), que contou com a presença de Andriei Gutierrez, presidente do conselho; Guilherme Rodrigues, head de consultoria da Kyndryl; e Edgard de Castro, presidente da Associação Brasileira de Tecnologia para o Comércio e Serviços (Afrac).
A IA foi o assunto central da NRF 2025, como já havia sido na Tech For Retail, evento ocorrido em novembro do ano passado em Paris, comprovando que a tecnologia já é uma realidade. “Agora, o desafio é integrar o físico ao digital, pois a experiência do cliente no presencial segue sendo indispensável. As novas ferramentas vêm para ampliar a experiência do consumidor, com o objetivo atendê-lo de forma rápida, eficiente e personalizável”, apontou Gutierrez.
Grandes marcas e o varejo em 2025
Segundo Castro, da Afrac, as grandes marcas esperam que o varejo utilize, neste ano, mais ferramentas que possibilitem uma jornada do consumidor fluida e integrada. “A experiência de compra deve transcender a separação entre o online e o físico, com a implementação de conceitos como a ‘prateleira infinita’, na qual os consumidores compram produtos que não estão fisicamente disponíveis na loja, porém são entregues em casa sem custo adicional”, ressaltou.
Além disso, as marcas reconhecem que a experiência de compra em lojas físicas ainda oferece um valor único, permitindo interações sensoriais não replicáveis online, como tocar e experimentar produtos. “Portanto, as marcas esperam que o varejo evolua para oferecer uma experiência mais rica e integrada, utilizando novas tecnologias e ferramentas para atender a essas expectativas”, afirmou Castro.
Estratégias de negócios
“Mudar a cultura organizacional de uma empresa pode levar anos. Entretanto, o pontapé inicial para utilizar as novas tecnologias nos processos internos é conhecer as ferramentas e usá-las no dia a dia”, ponderou Gutierrez.
Segundo os especialistas, o varejo deve pensar na inovação ou na tecnologia, seja esta qual for, para melhorar processos internos e, principalmente, potencializar a experiência de consumo dos clientes. Se o empresário conseguir analisar o perfil desse consumidor e compreender as suas preferências e os seus hábitos, passará a oferecer produtos e serviços de forma ainda mais certeira.
“Para isso, é preciso ter dados — e a loja é uma grande fonte de informações estratégicas. Desde o cadastro dos clientes até os registros de compras, estoques e movimentações financeiras, é possível identificar os padrões que sinalizarão as áreas que merecem atenção para mudanças e hábitos que permitem intensificar as ações de marketing”, explicou Castro.
Adaptação ao cenário brasileiro
Outro grande mote da NRF foi o engajamento do cliente, que começa no digital ou no físico — por meio da pesquisa pelos produtos desejados — e termina na conclusão da compra.
“A tecnologia é o ‘como’. Cabe ao empreendedor identificar as áreas que podem ser impactadas pela inovação para impulsionar os negócios. Hoje, todos têm acesso a plataformas de IA na palma da mão [no celular]. O segredo é fazer um planejamento estratégico, escolher as soluções mais adequadas e atrair os profissionais certos para fazer essa integração”, afirmou Rodrigues, da Kyndryl.
Nas empresas que já utilizam a ferramenta e estão inseridas na interpretação de dados, a adaptação é totalmente natural. Para os pequenos, a introdução da tecnologia pode assustar — mas se o empresário observar as soluções que já utiliza, pode vislumbrar um caminho seguro para seguir.
“O pequeno varejo está atrasado [quanto à aplicação da IA]. E não estou falando apenas no Brasil, mas no mundo como um todo. Poucos empresários têm organizados os dados de vendas, mesmo que emitam todos os documentos fiscais. Então, o primeiro passo que o varejista pequeno deve dar é para trás. Será que os meus sistemas de automação interna estão funcionando? Utilizo todas as informações sobre o meu negócio que me fornecem?”, questionou Castro.
Aproveitar as ferramentas existentes
A grande questão é como as pequenas empresas, que não podem investir em soluções onerosas, podem estimular os negócios? A resposta, segundo os especialistas, é olhar novamente para dentro.
De acordo com Castro, talvez uma das poucas vantagens que o Brasil tenha sobre os outros países seja o sistema de pagamentos, que é muito bem-estruturado. Hoje, é praticamente tudo integrado, em que o empresário recebe pagamentos no cartão, diretamente na conta com o PIX e acessa os dados do cliente via nota fiscal, ou seja, conta com o tracking completo.
“A grande maioria dos fornecedores de software de Point of Sale (POS) gera esses dados em segundos. O varejista pode colocar para rodar dentro das maquininhas de pagamentos e utilizar esses dados de maneira estratégica. Não custa caro e são salvos na nuvem, ou seja, nem espaço físico vão ocupar”, pontuou Castro.
A partir dessa adaptação, o empreendedor pode começar a utilizar as ferramentas modernas de IA. “A dica é: comece a usar o ChatGPT, o DeepSeek, o Gemini ou outra plataforma, no seu dia a dia, para as coisas mais simples. Com o hábito, vai perceber a capacidade da tecnologia e como esta pode ajudar o seu negócio para tornar o trabalho mais produtivo”, afirmou o presidente da Afrac.
Principais tendências tecnológicas
Antigamente, as empresas utilizavam o Business Intelligence (BI), que levava seis meses para definir um relatório, baseado nos dados coletados. Em seis meses, aquele retrato que havia registrado já havia ficado obsoleto, e a IA, em seus vários formatos — preditiva, generativa e visual —, dá essa resposta em segundos.
“Na NFR, tivemos um exemplo de produto desenvolvido com IA que achei muito inteligente e que reflete essa nova relação entre o varejo e o cliente. Uma startup israelense de perfume criou um produto de atendimento ao público que elabora a fragrância conforme as características pessoais do consumidor. Por meio de um painel touch, o consumidor indica as suas preferências — como estilo de vida, alimentação, entre outros — e, ao fim do processo, o sistema borrifa o perfume que melhor se encaixa nas características apresentadas em um papel e entrega ao cliente. A ideia parece simples, mas quantas pessoas poderiam ser atraídas por essa praticidade?”, indagou Castro.
Outra solução que chamou a atenção dos especialistas foi um equipamento, parecido com uma câmera, com um espectrômetro embutido, que identificava quando uma fruta ou um legume está apto para o consumo.
Além do fato de o público errar menos no momento da compra, o empresário pode ter um controle mais preciso do estoque, sabendo a hora exata de fazer promoções, repor produtos e evitar desperdícios.
Barreiras na prática
Durante o evento, o público questionou os especialistas acerca dos custos da aquisição da tecnologia para os pequenos negócios, mostrando-se uma grande barreira para a automação.
“É possível utilizar ferramentas open source [código-fonte disponível para todos], muitas vezes gratuitas para pequenos usos, que podem ser exploradas pelas pequenas empresas sem despenderem grandes investimentos”, afirmou Rodrigues.
O head da Kyndryl citou ainda a oportunidade gerada pelos marketplaces, que permitem a presença do varejo no digital, sem a necessidade de investir em estruturas de vendas e pagamentos, além das redes sociais, cujo manejo estratégico resulta em boas ações de marketing e relacionamento com os clientes.
Outra barreira que inibe a presença das soluções tecnológicas nas lojas é a aceitação do consumidor. Castro lembrou do ingresso do self-checkout (painel de autoatendimento) no varejo brasileiro, que, no início, enfrentou resistência. “Toda nova tecnologia traz estranhamento no começo, depois se torna tão natural que não faz sentido voltar a ser como antes. Basta entrar no McDonald’s e constatar que o pessoal se organiza em filas nos self-checkout para fazer o pedido, com a possibilidade de montar o lanche personalizado. Não gosta de picles? Já indica no pedido e tudo é feito de uma maneira rápida e eficiente. Claro que existe a barreira da idade, na qual muitas pessoas ainda preferem o atendimento presencial, mas todas as soluções devem ser pensadas na experiência do cliente, de como a compra ou a prestação do serviço pode ser melhorada e mais prazerosa”, afirmou Castro.
